Ser baixinha é...

Cadeiras. Escadas. Banquinhos. Salto alto. Pulos. Esses e tantos outros elementos fazem parte da vida de uma mulher de baixa estatura. Apelidos na infância como pintora de rodapé, surfista de aquário, nanica, anã de jardim (ou só anã, pros mais práticos), toco de amarrar jegue,  todo e qualquer adjetivo dado com o sufixo “inha” além de expressões como “O que vem de baixo não me atinge”, “As menorzinhas na frente” na hora das fotos  e “A vista de baixo é boa?” compuseram boa parte da sessão bullying da minha vida. Era chato ser SEM-PRE a primeira da fila indiana. Claro que tinham os adoráveis amigos e familiares que carinhosamente faziam questã, como diz a Maruyama, de me lembrar o tamanho de forma carinhosa, com os típicos chaveirinho, pequena, fofolete e tampinha de garrafa (não sei se o último é tão carinhoso assim, mas OK). Pergunto: Pra quê isso, minha gente?

Adquiri ao longo do tempo certa raiva do meu tamanho, exatamente por ser lembrada tão rudemente pelos maloqueiros e falastrões da escola (momento emocore). Pensava até uns anos atrás o por quê eu era identificada tão prontamente pela minha estatura. Pior na escola que eu era mais tímida que o Edward Mãos de Tesoura, o que dava vazão a alopração toda sem ao menos rebater com um “tamanho não é documento”. Mas depois que a gente pauta certas prioridades na vida, e vai se mostrando valoroso dentro da sociedade e diante de seus amigos, as coisas mudam. O que passa a chamar a atenção agora é seu caráter, sua postura, seu jeito de se relacionar com as pessoas e o jogo de cintura que você só pega depois de muitos tapinhas na cara. Não que isso é considerado o trauma da minha vida, longe disso, mas consegui ver que isso não tem a mínima relevância no meu crescimento como pessoa – sem trocadilhos!

Ser baixinha é ter que cortar parte da calça pra fazer barra, é vez ou outra comprar uma blusinha fofa na seção infantil, é caber e passar em qualquer, q-u-a-l-q-u-e-r lugar, é usar um salto 13 e ainda ficar menor que as amigas, é ficar com os pés pendurados no metrô, é parecer SEMPRE 5 (ou mais) anos mais nova, é viajar no porta-malas em uma carona com 8 pessoas dentro (isso aconteceu comigo, precisava partilhar!), é subir em todas as cadeiras da casa pra alcançar as coisas no armário, é ficar na ponta do pé pra abraçar todos os homens do mundo, é estar mais perto do chão quando tropeçar e se machucar menos (HÁ!), ser baixinha é isso aí. Só quem é baixinha, ou quem tem uma baixinha na vida sabe. E ai de quem falar que somos invocadas!